segunda-feira, 7 de maio de 2012

SOBRE HUMANOS, MATURIDADE, GERMINAÇÃO E MALTEAÇÃO

         Como reflexão inaugural deste meu novo blog, pretendo registrar uma reflexão que me acompanhou hoje durante momentos em que dirigia para o trabalho. Nesses momentos intermunicipais, ouvindo um bom rock ´n roll, principalmente motivada ao ouvir o poeta Morrissey, "I´m so very sorry", confesso que meu pensamento ficou mais carbonatado que cerveja bem feita! Não poderia haver primming mais eficiente. Mas o starter do meu fermento hoje já tinha sido providencial: Tito Puentes e O Teatro Mágico pela manhã!! Com café espresso de bourbon amarelo, grãos especialíssimos logo cedo me acordando para a vida!!

      De volta à estrada, considerando as vicissitudes contemporâneas de minha humilde existência, vieram-me à tela mental escolhas que fiz no passado, que reverberam até hoje no meu presente, por conseguinte, foi inexorável  comparar processos da vida com processos da natureza, e como é sabia a natureza!!

        Analisava a quantidade de variáveis e combinações possíveis que podemos obter ao escolher as plantas certas para as receitas certas, para obter máxima eficiência  de todos os nossos humanos sentidos. A semente certa, para obter maior eficiência na colheita da vida. Coloração, aromas, sabores, toques, sons. A natureza e os sentidos humanos. Os sentidos humanos na natureza. A natureza humana em busca de sentidos.

      Esse silogismo me acompanhou durante horas incessantes de meu dia de alfa ácidos de amargor superior a 18%. Dia um tanto quanto alcalino, por constatar alguns carunchos indesejáveis no meu celeiro de grãos. Verifiquei a existência dos intrusos impassíveis e destemidos que tentavam a todo custo me demover de meu equilíbrio frente os problemas da minha brassagem, da minha labuta interior. Eis que surgem as frutadas e amarillas lembranças de que sempre há uma alternativa e uma nova possível receita para cada momento da vida.

     Pensando nos grãos, nas sementes, fui levada a uma viagem sensorial tão ilimitada quanto a de Neruda, com sua Norma de rebeldia, com sua árvore de asas.
Os finais podem ser sempre profícuos, dependendo da escolha que fazemos no início dos processos, no momento de plantio. Ao chegar em nossas mãos, alvissareiros, seja o grão, seja a semente, ambos emanam possibilidades. A semente é sempre a virtualidade, a potência de ser, a probabilidade por excelência. 

       Se por um lado escolhemos a germinação, em primeiro lugar, é preciso que ocorra a morte da semente, a dor metamorfoseadora; morre semente; nasce nova vida. Isso Padre Fábio de Melo ilustra muito bem em seu livro Tempo de esperas.

     Nova vida que deita raízes ao solo, que se aprofunda, que se espraia por áreas desconhecidas, mas que nutrem, que trazem respiro, que motivam a crescer cada vez mais, para dentro, para sentidos inesperados, nos arredores, para cima. Movimento intrínseco, dialético, de completude, de beatitude.

      Aprofundar-se em raiz, nutrindo as possibilidades de arvoreamento, criar galhos, alcançar os altos céus, frutificar, florescer, atrair também metamorfoseadas borboletas. Ciclo natural que exige coragem, morte e renascimento.

     Seres humanos também escolhem germinar vez ou outra. Aceitam a morte da semente, pequena de possibilidades. Lançam raízes na terra desconhecida, escura, todavia nutritiva. Aprofundam suas raízes e se permitem crescer ilimitadamente. Morre a mediocridade intrínseca da semente, liberta-se uma gama de relatividades.

       Por outro lado, alguns exemplares de nossa espécie não estão preparados para deixar de ser semente. O que não é de todo um mal. Sementes, grãos, cuja germinação é brutalmente interrompida no processo de malteação, não germinam, não frutificam, não florescem, não atraem as coloridas, frívolas, fugazes borboletas.
Em contrapartida, se bem tratadas e acondicionadas, resultam em  cervejas de excelente qualidade. Fazem a felicidade sensorial e estética de outros seres, marcam momentos na vida das pessoas, servem como pano de fundo para grandes histórias.

    SEJA QUAL FOR NOSSA ESCOLHA NA VIDA, SER SEMENTE GERMINADA - PROTAGONISTA - OU SER GRÃO MALTEADO - COADJUVANTE -, O QUE IMPORTA É QUE O FINAL É SEMPRE FELIZ NO MUNDO DAS SENSAÇÕES!

 
CHEERS!!


2 comentários:

  1. Precisamos aprender a suportar a dor de morrermos como sementes... Bjssss

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    1. Isso só aprendemos com o passar dos anos, amiga, quando nos afastamos do susto primordial, aquele do nosso primeiro nascimento, quando saímos da nossa primeira zona de conforto, rsrs, a uterina, rs. Agora é momento de novos plantios, novas safras, novas colheitas, Fran, e a natureza está a nosso favor!!! bjs amiga!!

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